Na autoescola o aluno aprende a passar no exame, o que não significa que ele está apto a encarar o tumulto do trânsito nos grandes centros. O Conselho Nacional de Trânsito até prevê aulas também em vias públicas, mas por enquanto a maioria das autoescola não adotou esse sistema. Mas isso é uma outra história que abordaremos em outra matéria.
A moto não é nenhum bicho de sete cabeças e a certeza disso veio assim que iniciei as aulas práticas na Auto Escola Silva, em Curitiba, com o intuito de repassar aos leitores esta experiência. Faria a inclusão da categoria A na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), até então habilitada na B, para carro. Neste caso não precisei fazer as aulas teóricas – obrigatórias apenas para a primeira habilitação
Estava sem guiar um veículo motorizado de duas rodas há 20 anos e posso garantir que a sensação foi a mesma de um aluno que é apresentado pela primeira vez a uma moto: frio na barriga, medo de cair e aflição diante da rampa. A pista do CFC possui traçado semelhante ao oficial, porém com dimensões menores. Isso torna o treinamento mais difícil comparado ao Detran, onde os contornos são imensos. Resumindo: “zerar” o circuito no curso implica em superar sem problemas os obstáculos no dia da prova. A não ser por excesso de nervosismo ou desatenção às manobras.
Na aula inaugural, o teste do equilíbrio. A aceleração é travada por um pino e a moto se movimenta apenas pelo impulso da primeira marcha engatada. A velocidade é tão baixa que a moto quase para. A queda é inevitável para alguns. Felizmente não fiz parte deste grupo. “Não é raro cair nas primeiras aulas. Mesmo quem tem experiência encontrará dificuldade no início para andar na pista reduzida”, ressalta o instrutor da Auto Escola Silva, Wilton Cardoso.
A estudante Laysa Francielli de Matos, 19 anos, minha colega de aula, foi ao chão na segunda aula ao tentar frear no labirinto. “Ainda não estava acostumada com o peso da moto. Mas logo aprendi a mexer o quadril (técnica importante para realizar as manobras com perfeição) e assim me manter em cima da moto”, disse a curitibana. De acordo com Cardoso, 80% dos alunos pegam o jeito da moto rapidamente. Com Laysa não foi diferente. Ela cumpriu o curso prático com louvor, porém na hora da prova acabou traída pela distração. Iniciou o circuito com a viseira do capacete aberta, o que resultou em falta eliminatória. No reexame, teve mais cuidado e venceu os obstáculos sem surpresas.
Na primeira metade do curso, os pés no chão para evitar o tombo é recorrente. Portanto, não é motivo para desanimar. A essa altura o macete para transpor a prancha já está bem treinado. Uma “aceleradinha” antes de entrar no obstáculo, mantendo a velocidade constante, ajuda no equilíbrio e torna a pequena reta estreita menos complicada do que parece.
Nos labirintos e no oito o segredo é realizá-los apenas com a aceleração do motor, sob o risco de perder o controle e “comer” as faixas laterais – no exame pode significar a reprovação.
A rampa aparece na quinta aula. A sincronia entre a liberação da embreagem e a aceleração, que irá tirar o veículo da inércia no pé do obstáculo, é questão de tempo. Os mais baixinhos devem ter atenção para não perder o equilíbrio na hora de parar a moto. No dia em que fiz o exame, alguns candidatos caíram neste obstáculo. Todos com estaturas menores.
As trocas para a 2.ª e 3.ª marchas também ocorrem nesta fase. As mudanças são feitas apenas em um trecho do percurso, o restante é em primeira marcha. O único cuidado é tornar “automático” o acionamento do pisca ao contornar o cone na troca de marcha. Durante as aulas é comum esquecer de ligá-lo ou desligá-lo, e na prova isso resulta em falta grave (limite para a eliminação).
Os 50 minutos de treinamento viram uma eternidade a partir da 10.ª, 11.ª aula. Provavelmente você já estará dominando o circuito e até arriscando aceleradas mais fortes. A cada aula o aluno pode usar motos diferentes para que encontre aquela que melhor se adapte e assim possa selecioná-la para o exame. O dia “D” no Detran virá duas semanas após terminado o curso. Por isso, o ideal é agendar pelo menos uma aula extra para o dia da prova ou na véspera a fim de reforçar detalhes do percurso.
No exame, o nervosismo vai aparecer para muitos. Combato-o mantendo a concentração e não se impressione com as quedas de outros candidatos. Confie no seu aprendizado. Aliás, não seja o primeiro a entrar na pista, a não ser que esteja bem seguro. Analise com calma a passagem de outros para evitar possíveis falhas.
Marcio Masson, 53 anos, de Curitiba, habilitado recentemente, contou que a sua volta foi tão tranquila que nem percebeu a hora que acabou. Operador de UTI móvel, ele nunca havia pilotado uma moto antes de se matricular no CFC. Sempre quis ter uma, mas não levava a ideia adiante por socorrer vários motociclistas acidentados. Até que criou coragem e comprou uma Yamaha Virago 250. Porém, só foi andar nela depois de algumas aulas no curso. “Percebi que boa parte do risco de acidente com motos está na imprudência de quem dirige. Mesmo sabendo que o seu veículo é mais veloz, que chegará primeiro que o carro, o motociclista quer andar ainda mais rápido”, salientou.
Outra dica importante para o exame é não parar a moto e colocar o pé no chão diante de um erro cometido. O fato de a pista ser grande pode fazer com que o examinador não perceba o deslize. Ouça com bastante atenção às orientações dadas antes da prova. Elas serão fundamentais para você ter sucesso nos 5 minutos de avaliação. Confira no infográfico acima mais dicas e cuidados para tirar de letra a prova prática do Detran.
0 comentários:
Postar um comentário